A máquina de escrever está quieta, num canto da mesa, quando é provocada pelo notebook.
– Hoje, serei levado a um importante evento, com políticos, artistas, intelectuais. E você?
– Saco, não vê que estou descansando?
– Deve ser triste a solidão deste escritório.
– Quem disse que estou sozinha? Veja aquela estante repleta de livros.
– Seu tempo já passou. O que vale agora é a alta tecnologia.
– É verdade, mas não se gabe só por ter uns recursos diferentes.
– Carrego softwares de todos os tipos, aplicativos, drivers. Tô conectado com a internet. Sabe o que é isso?
– Mas você é passageiro. Eu sou para sempre.
– Uma aposentada que só serve de enfeite.
– Tenho história, meu filho, experiência de vida.
– Em mim, nascem grandes matérias.
– Que morrem no dia seguinte.
– E daí? Pelo menos me sinto vivo.
– Em mim, nasceram grandes obras literárias, que vão durar décadas e décadas.
– Mas é a mim que ele procura todos os dias.
– Por obrigação de um trabalho rotineiro.
– Invejosa!
– É a mim que ele sempre jurou amor verdadeiro.
– É um velho saudosista.
O jornalista entra no escritório, apressado. Pega a bolsa, o celular e o notebook, que, antes de ir embora, olha com desprezo para a máquina de escrever.
– Pobrezinha, que vidinha sem graça ela leva – pensa o notebook.
– Coitado, nem imagina que logo será trocado por um modelo mais compacto, com webcam e bluetooth – pensa a máquina.
sexta-feira, 17 de julho de 2009
4 comentários:
- Fernando Rocha disse...
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É... A pós-modernidade tem imposto um tempo rápido com coisas descartáveis, as quais fingem conseguir superar as ferramentas antigas. mas o que vale mesmo é a criatividade de quem manuseia etas ferramentas, afinal os textos nascem na cabeça do ser humano.
Vi o link do seu blog, no pisandoemflores, da Rose.
Gostei!
Publico textos uma vez por semana no blog: www.neuroticoautonomo.zip.net - 17 de julho de 2009 às 11:26
- Fernando disse...
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ótimo! ótimo! ótimo! Parabéns...
- 17 de julho de 2009 às 18:11
- André HP disse...
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Beeeem legal!
Criativo garoto!
Abraço! - 17 de julho de 2009 às 22:35
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haaaaaaaaa que texto bacana, eu tenho um máquina de escrever, ganhei do meu pai quando tinha uns 10 ou 9 anos. Se tenho habilidade com teclas a culpa foi da velha máquina.
Abraço... - 19 de julho de 2009 às 18:46
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