segunda-feira, 22 de março de 2010

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Na poltrona do avião, numa ponte aérea, esmagado entre dois homens de terno e gravata, seguia minha viagem para uma pauta do jornal. O sujeito da direita, de cabelos grisalhos, bem barbeado e ar imponente, carregava um jornal nas mãos, o da empresa onde eu trabalhava. Tinha cara de alto executivo. “Homens de terno e gravata parecem ser mais importantes, mesmo que, no fundo, sejam uns bostas”, dizia meu avô. No meio deles, estava eu, de camiseta, calça jeans, tênis e cara de sono.

O homem da direita começou a folhear o jornal. Depois de alguns minutos, pegou o caderno para qual eu escrevia e passou a ler minha matéria, que estampava a capa daquela edição. Fiquei ansioso. Nunca tinha estado tão próximo de um leitor que não me conhecia. Iria gostar? Leria até o fim? Parecia atento, interessado. Mas logo desviou o olhar, para conferir o rebolar de uma comissária de bordo que desfilava pelo corredor. Se soubesse o quanto eu tinha ralado, não teria feito tal desfeita com meu texto.

Pensei em abordá-lo. E se eu falasse que o Duda Rangel do papel era eu? Acreditaria num cara tão mal vestido? Acharia engraçada a coincidência? Seria indiferente? Em TV, os rostos ficam famosos; em impresso, somos meras assinaturas.

– Esses vereadores fazem um monte de sacanagem e depois usam a imprensa para limpar a barra com a opinião pública, comentou o homem, girando levemente o corpo em minha direção.

– O senhor falou comigo?, perguntei.

– Foi só um desabafo. Não entendo essa imprensa que engole qualquer asneira de um entrevistado.

É certo que, às vezes, engolimos mesmo algumas idiotices, mas alguns executivos engravatados não têm a mínima idéia do que é o trabalho de um jornalista, as dificuldades da apuração, a obrigação de ouvir os dois lados da história. O homem, então, virou a página do jornal e me esqueceu. Meu consolo foi o sorriso da comissária, que voltava pelo corredor, com deliciosas Maxi Goiabinhas nas mãos.

5 comentários:

Rosemeri Sirnes disse...

Não tem jeito, é preciso ter vocação pra jornalista, às vezes eu penso em desistir, se é pra ganhar pouco que seja escrevendo livros. Ou quem sabe, eu não tente a sorte no BBB 11...rs

Beijos

Jafar Barreiros disse...

Rapaz... já li tantos textos do site nos últimos 25 minutos que nem lembro mais como parei aqui. Parabéns pelo seu ponto de vista da nossa profissão (que pra mim é como visgo de jaca) Grande abraço!

Laís disse...

Rosemeri: vai ver que é por isso que em quase todas as edições do BBB tem jornalistas, tentando sair dessa vida hehehe

Duda Rangel disse...

Rosemeri e Laís, a idéia da inscrição para o BBB11 parece interessante. Sempre tem espaço para jornalista. Como não me encaixo nos grupos dos sarados, dos belos, dos coloridos e dos cabeças, posso tentar uma vaga na ala dos desempregados. Jafar, muito boa a comparação com o visgo da jaca. Volte sempre ao blog! Abraços.

Laís disse...

Eu não duraria muito por lá: não sou sarada, não sou do grupo dos coloridos, odeio dançar axé, funk eu odeio ao quadrado...nas festas só beberia e comeria e fazer aquele uhuu idiota nem pensar...seria a chata, excêntrica e antipática heheheh. Pra mim é melhor esquecer a cogitação de uma "carreira" de ex-BBB e me contentar com a vida de jornalista :)