sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

10 dicas para uma boa cobertura de carnaval


1. Seja na avenida, num baile de salão ou atrás de um trio elétrico, tente fugir das perguntas óbvias quando for entrevistar um folião. Pelo amor de Deus, nada de “muita emoção?” ou “curtindo o carnaval?” ou ainda “e essa energia tem hora pra acabar?”.

2. Evite os personagens manjados, como o gari que samba feliz; o rapaz que sofre para empurrar o carro alegórico, mas faz isso pelo amor à escola de samba; ou a tiazinha gorda na arquibancada do sambódromo que não perde o pique apesar da chuva.

3. Entrevistar um carnavalesco não é missão fácil. Para se ter uma dimensão da encrenca, esse povo tem o ego maior do que o de nós, jornalistas. Seja cauteloso nas perguntas para não magoá-lo e correr o risco de presenciar um dos maiores pitis de sua vida.

4. Se for entrevistar (sub)celebridades em bailes, na concentração ou em camarotes de cervejaria, cheque o nome da pessoa antes de entrar ao vivo na TV. E fale apenas com gente interessante. Não caia naquela lorota dos “projetos artísticos sigilosos”.

5. Não se revolte se esbarrar numa Carla Perez trabalhando como repórter ao seu lado. Pensamentos ruins, como “nosso diploma não vale nada mesmo” ou “poderia ter gastado a grana da faculdade numa lipo”, vão atrapalhar a sua concentração.

6. É fundamental ter cuidados com a voz. Fazer perguntas gritando, em meio ao barulho, deixa qualquer um rouco. Neste caso, não é considerada prática antiética levar a boca para bem perto da orelha do entrevistado. Mas sem enfiar a língua, ok?

7. Prepare-se para todo tipo de adversidade – chuva, sol, altos decibéis de música sem parar, cheiro insuportável de mijo nas ruas, cantadas de baixo nível e, claro, piadinhas como “aí, jornalista, trabalhando no carnaval! Se fodeu, hein?”.

8. No dia da apuração do bloco especial, é conveniente trabalhar com protetores de cabeça e maxilar (como os de pugilistas). Apuração é sempre aquela briga e tumulto de repórteres querendo falar com o presidente da escola campeã ou rebaixada.

9. Se você odeia samba ou axé, cobrir o carnaval ouvindo rock no MP3 player é uma ótima dica. Só não esqueça de tirar os fones do ouvido na hora de uma entrevista. Uma desintoxicação pós-festa (não ouvir Ivete Sangalo durante a quaresma) também é uma boa.

10. Se você é casado e terá de trabalhar os quatro dias, nada de ficar ligando pra casa a todo o momento pra saber se sua mulher ou seu marido está se comportando. Relaxe! E por que não prestar atenção naquela diabinha safada ou no bombeiro musculoso? Afinal é carnaval.

19 comentários:

Anderson Silva disse...

hahahaha..Sensacional.....Parabéns, Duda!

Aline Costa disse...

Eu estava na apuração de São Paulo do ano passado - quando o pessoal de uma escola ligada a um clube de futebol começou a jogar cadeiras e "ovnis" vieram das arquibancadas. Até fui conversar com um repórter de rádio que ficou ferido na cabeça. O bom é que tem uma ambulância ali e eles atendem as pessoas com muita rapidez e eficiência - é sério, eles são atenciosos mesmo.

Janaína disse...

Duda cada vez melhor! Texto sensacional!

Janaína Casanova disse...

Aêee!
ótimas dicas! haahahahaha
já vou começar a colocar em prática, pois nesse findi é meu plantão e vou cobrir o baile de PRÉ-CARNAVAL! UHUUL

Thaís disse...

Cobertura de carnaval está no meu top 5 das piores...este ano me livrei. Por incrivel que pareça, estou de férias.

Cristine Bartchewsky Lobato disse...

O Item 8 me faz recordar a apuração de 2009 quando quase fui pisoteada pelos fotógrafos ao anunciarem a escola vencedora.

Bjs

ps: camarote é um pé no saco. Legal é assistir direto na passarela do samba. ;)

Everson de Andrade (Boneco Vevel) disse...

Genial como sempre!

Ross Neto disse...

A da Carla Perez foi a melhor! Esse povo tá limpando a bunda com nosso diploma, que é isso? Tenho crises de riso infinitas de riso com tuas postagens.

=*

Laís Fernanda Borges disse...

já tow pensando que eu vou trabalhar no domingo de carnaval...ainda bem que nao é direto com o povo, mas vou suar bastante...

bjs

Celamar Maione disse...

Foram mais de dez anos cobrindo desfile de escola de samba. As dicas estão boas.
A diferença é que adoro cobrir carnaval.

Ailime Kamaia disse...

Passei dois meses de férias e tava morrendo de saudades dos teus posts.

Amanhã vou gravar o pré-carnval curitibano, vamos ver se aprendi direitinho...

Anônimo disse...

Fico imaginando a situação! Deus me livre! kkkkk

Ana Fernanda disse...

Duda, você é uma peça! E tenho que confessar: a primeira cobertura carnavalesca (moro em Salvador) foi o começo do fim da minha carreira em redação... =D

Unknown disse...

Já pensou em fazer um stand up com essas mazelas da profissão? Seria uma boa, hein!!

Duda Rangel disse...

Oi, Monique, vou pensar na idéia.
E boa sorte a todos que vão ralar ou já estão ralando na cobertura do carnaval. Abraços.

Giselli disse...

olá Duda, sou jornalista e comecei a ler seu blog há pouco tempo, e já vou ser assídua. Carnaval eu nunca cobri, hoje estou fora de de redação, mas vc sabe, que é jornalista, morre assim...sempre com aquele coceirinha...continue assim, vc é ótemo! abs,

Unknown disse...

Em 2003, eu fui escalado para cobrir o Cordão do Bola Preta. Era a minha primeira vez no carnaval... Lembro-me que cometi o grande erro de penetrar no meio do bloco. Fui carregado por aquele mar de gente suada, espremido por suvacos pegajosos. E ainda tive que disputar o meu bloquinho com uma mulher que insistia em ver o que eu estava escrevendo. Visão do inferno (rsrsrs)!

Espalhaffotto - Luz, Imagem e Cores disse...

Muito legal..... E quem já não passou por situações parecidas na cobertura do Carnaval?

Duda Rangel disse...

Oi, Giselli, volte sempre ao blog.
Guga, deve ser realmente traumático ser espremido por sovacos pegajosos. Mas, como bem escreveu Espalhaffotto, quem nunca já passou por situações parecidas no carnaval? Coragem, meus caros! Abraços.