segunda-feira, 6 de junho de 2011

A imprensa segundo G.H.


- Sente-se, seu Onofre, por favor. Dona Lurdes, dois cafés.

- Sim, senhor.

- Mas me diga, seu Onofre, em que posso ajudar? O senhor parece aporrinhado.

- E não é pra estar, seu Genival Herculano?

- Me chame de G.H., por favor.

- É sobre a notícia de minha pastelaria na edição da semana de seu jornal, seu G.H..

- Seu Onofre, acabo de voltar de viagem. Minha senhora quis ir pra Miami. Como aquela lá adora ter contato com uma nova cultura e, claro, fazer umas comprinhas. Nem acompanhei direito a nossa última edição.

- O seu jornal publicou uma nota dizendo que um cliente mastigou uma barata em um de meus pastéis.

- Não acredito, seu Onofre!

- Pois foi verdade, seu G.H..

- A barata?

- Não, a nota. A barata também... mas era uma barata miudinha. Não era pra tanto estardalhaço, entende?

- Não foi nenhuma baratona, cascuda, voadora.

- Longe disso, seu G.H..

- Entendo.

- Meu filho, que é metido com essas coisas de internet, me contou que a pastelaria virou até piada no Tuide, Tuite, sei lá.

- Seu Onofre, isso com certeza foi coisa do Clayton Júnior. O menino é bom repórter, mas tem mania de achar que jornalismo é denúncia, investigação. Já falei pra ele que aqui na cidade não podemos nos indispor com os amigos, com o prefeito Paulão, os comerciantes...

- A pastelaria tem anúncio de página inteira toda semana no seu jornal. Não é justo, o senhor sabe.

- Claro que não, seu Onofre. Mas o erro será reparado.

- Como?

- Pra semana que vem, vamos fazer uma matéria de capa com sua pastelaria. Haverá um grande pastelaço na cidade! O que o senhor acha? Eu mesmo vou aparecer numa foto comendo o seu pastel. Vamos mostrar que a barata não passou de um mal-entendido!

- Isso parece muito bom, seu G.H..

- Isso é ótimo. E peça pra seu filho divulgar o pastelaço no Twitter!

- O senhor é um grande homem da comunicação, seu Genival.

- G.H., por favor!

- G.H.!

- E tome logo esse café, seu Onofre, porque está esfriando. O senhor prefere açúcar ou adoçante?

11 comentários:

Talita Cruz disse...

Ah..uma baratinha nunca é problema para G.H..rsrs.

Muito bom Duda!!

Jessica Riegg disse...

Lendo seu blog eu percebo o quanto o jornalismo é igual em todos os lugares, desde o interior até as capitais!

Ana Paula Vitorino disse...

Aconteceu comigo, igualzinho, semana passada. Só não posso dizer se eu era a dona da pastelaria, a dona do jornal, ou a repórter.

Tainá Carvalho disse...

Noosa parece um país q eu conheço, a metódica do Jornalismo, claro!
A barata é pouco diante do vexame de esconder a verdade a troco de dinheiro. Os rumos do jornalismo podem ser estes se realmente os conceitos das faculdades não forem revisados!

Priscila Borges disse...

Qualquer semelhança infelizmente, não é mera coincidência...

Roberta Fraga disse...

kkk Dei muita risada no Tuide, tuite, sei lá...

sambaseversos disse...

diante desses chacais eu fico com pena mesmo é da barata rsrs

Leandro Silva disse...

Muito bom!

Lis Lemos disse...

Pobre jornalista q acha que jornalismo é investigação...não sabe que entre a sala do chefe e o gabinete do prefeito, governador, presidente há mais coisas do que imagina nossa vã filosofia.

Duda Rangel disse...

É, meus caros, o pior é que existem muitos G.H.s por aí. E muitas baratas. Abraços.

Guilherme César disse...

BARATA ??????? sei......