Carta ao jornalista dinamarquês que ficou chocadinho com o Brasil e desistiu do sonho de cobrir a Copa do Mundo.
Prezado Mikkel Jensen ou “jornalisten bundamolensen” (para falar um dinamarquês bem claro),
Eu adoraria fazer uma cobertura jornalística sobre a bela primavera em Copenhague. A cidade ensolarada e cheia de gente com consciência ecológica pedalando de lá pra cá. Se você me fizer um convite, vou praí com grande satisfação. Desde que o convite inclua, claro, passagem aérea, hospedagem e alimentação.
É muito bom cobrir belas primaveras em qualquer cidade ensolarada do mundo, mas, quando a gente escolhe ser jornalista, precisa estar preparado para tudo, coisas belas ou não.
Mazelas, tragédias, desgraças em geral fazem parte da nossa realidade de jornalista.
Jornalista chocado com a realidade é como um cirurgião chocado com sangue ou uma ninfomaníaca com direito a volumes 1 e 2 chocada com uma “pirocassen” ou uma “xoxotassen” (aliás, estas foram as primeiras palavras que me ensinaram em dinamarquês).
E você, meu caro, chocado com o que ouviu ou imaginou do Brasil ainda abriu mão do sonho de cobrir uma Copa do Mundo? Que porra de jornalista você é, afinal?
Aqui, no Brasil, há muitas coisas lindas para se cobrir, mas aqui também se matam crianças. Se matam velhos, Amarildos, se queimam índios. Violência social é com a gente mesmo. E é por isso que o Brasil precisa tanto do olhar sem medo dos jornalistas.
Não basta ter sangue viking correndo pelas veias. É preciso ter sangue de jornalista correndo pelas veias.
Para não me alongar, paro por aqui. Fico aguardando um convite seu para cobrir a bela primavera em Copenhague. Não me importo de viajar em classe econômica, ok? E torço muito para que você reconsidere sua decisão e volte ao Brasil para realizar o seu sonho. Venha mesmo, mas, por favor, sem “mimimissen” (para falar um dinamarquês bem claro).
Cordialmente,
Duda Rangel
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terça-feira, 22 de abril de 2014
segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013
10 dicas para uma boa cobertura de carnaval
1. Seja na avenida, num baile de salão ou atrás de um trio elétrico, fuja das perguntas óbvias quando entrevistar um folião. Pelo amor de Deus, nada de “muita alegria?” ou “curtindo o carnaval?” ou ainda “e essa energia tem hora pra acabar?”.
2. Evite os personagens manjados, como o gari que samba feliz; o rapaz que sofre para empurrar o carro alegórico, mas faz isso pelo amor à escola de samba; ou a tiazinha na arquibancada do sambódromo que não perde o pique apesar da chuva.
3. Entrevistar um carnavalesco não é missão fácil. Para se ter uma dimensão da encrenca, esse povo tem o ego maior do que o de nós, jornalistas. Seja cauteloso nas perguntas para não magoá-lo e correr o risco de presenciar um dos maiores pitis de sua vida.
4. Se entrevistar subcelebridades em bailes, na concentração ou em camarotes de cervejaria, cheque o nome da pessoa antes de entrar ao vivo na TV. E tente falar apenas com gente interessante. Não caia na lorota dos “projetos artísticos sigilosos”.
5. Não se revolte se esbarrar numa Carla Perez trabalhando como repórter ao seu lado. Pensamentos ruins como “nosso diploma não vale nada mesmo” ou “poderia ter gastado a grana da faculdade numa lipo” só vão atrapalhar a sua concentração.
6. É fundamental ter cuidados com a voz. Fazer perguntas gritando num local barulhento deixa qualquer um rouco. Neste caso, não é considerada prática antiética levar a boca para bem perto da orelha do entrevistado. Mas sem enfiar a língua, ok?
7. Prepare-se para todo tipo de adversidade – chuva, sol, altos decibéis de música sem parar, cheiro insuportável de mijo nas ruas, cantadas de baixo nível e, claro, piadinhas como “aí, jornalista, trabalhando no carnaval! Se fodeu, hein?”.
8. No dia da apuração do bloco especial, é conveniente trabalhar com protetores de cabeça e maxilar (como os de pugilistas). Apuração é sempre um tumulto de repórteres querendo falar com o presidente da escola campeã ou rebaixada.
9. Se você odeia samba ou axé, cobrir o carnaval ouvindo rock é uma ótima dica. Só não se esqueça de tirar os fones do ouvido na hora de uma entrevista. Uma desintoxicação pós-festa (não ouvir Ivete Sangalo durante a quaresma) também é uma boa.
10. Se você é casado, nada de ficar ligando pra casa a todo o momento pra saber se sua mulher ou seu marido está se comportando. Relaxe! E por que não prestar atenção na diabinha safada ou no bombeiro musculoso à sua frente? Afinal é carnaval.
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2. Evite os personagens manjados, como o gari que samba feliz; o rapaz que sofre para empurrar o carro alegórico, mas faz isso pelo amor à escola de samba; ou a tiazinha na arquibancada do sambódromo que não perde o pique apesar da chuva.
3. Entrevistar um carnavalesco não é missão fácil. Para se ter uma dimensão da encrenca, esse povo tem o ego maior do que o de nós, jornalistas. Seja cauteloso nas perguntas para não magoá-lo e correr o risco de presenciar um dos maiores pitis de sua vida.
4. Se entrevistar subcelebridades em bailes, na concentração ou em camarotes de cervejaria, cheque o nome da pessoa antes de entrar ao vivo na TV. E tente falar apenas com gente interessante. Não caia na lorota dos “projetos artísticos sigilosos”.
5. Não se revolte se esbarrar numa Carla Perez trabalhando como repórter ao seu lado. Pensamentos ruins como “nosso diploma não vale nada mesmo” ou “poderia ter gastado a grana da faculdade numa lipo” só vão atrapalhar a sua concentração.
6. É fundamental ter cuidados com a voz. Fazer perguntas gritando num local barulhento deixa qualquer um rouco. Neste caso, não é considerada prática antiética levar a boca para bem perto da orelha do entrevistado. Mas sem enfiar a língua, ok?
7. Prepare-se para todo tipo de adversidade – chuva, sol, altos decibéis de música sem parar, cheiro insuportável de mijo nas ruas, cantadas de baixo nível e, claro, piadinhas como “aí, jornalista, trabalhando no carnaval! Se fodeu, hein?”.
8. No dia da apuração do bloco especial, é conveniente trabalhar com protetores de cabeça e maxilar (como os de pugilistas). Apuração é sempre um tumulto de repórteres querendo falar com o presidente da escola campeã ou rebaixada.
9. Se você odeia samba ou axé, cobrir o carnaval ouvindo rock é uma ótima dica. Só não se esqueça de tirar os fones do ouvido na hora de uma entrevista. Uma desintoxicação pós-festa (não ouvir Ivete Sangalo durante a quaresma) também é uma boa.
10. Se você é casado, nada de ficar ligando pra casa a todo o momento pra saber se sua mulher ou seu marido está se comportando. Relaxe! E por que não prestar atenção na diabinha safada ou no bombeiro musculoso à sua frente? Afinal é carnaval.
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segunda-feira, 28 de janeiro de 2013
Sobre a cobertura de uma tragédia
Para um jornalista, cobrir uma tragédia é trabalhar no limite. O limite entre o interesse público e a simples exploração da desgraça.
Cobrir uma tragédia é monitorar os próprios passos, perceber até onde se pode avançar.
É apelar para o bom gosto em meio a gosto tão amargo.
Cobrir uma tragédia é prestar serviço. E auxílio, se for preciso.
É ficar bem próximo da dor do outro, da histeria, da anestesia. E saber respeitá-las. É lembrar que o Jornalismo pertence à tal área de Humanas, por mais que a Matemática, com seus balanços de mortos e feridos e índices de audiência, insista em se intrometer.
Cobrir uma tragédia é parar com a bobagem de achar que frieza é sinônimo de profissionalismo. Jornalista pode se emocionar, pode se solidarizar. Pode se sentir pequeno. Nós, jornalistas, não somos máquinas. Pertencemos também à área de Humanas.
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É apelar para o bom gosto em meio a gosto tão amargo.
Cobrir uma tragédia é prestar serviço. E auxílio, se for preciso.
É ficar bem próximo da dor do outro, da histeria, da anestesia. E saber respeitá-las. É lembrar que o Jornalismo pertence à tal área de Humanas, por mais que a Matemática, com seus balanços de mortos e feridos e índices de audiência, insista em se intrometer.
Cobrir uma tragédia é parar com a bobagem de achar que frieza é sinônimo de profissionalismo. Jornalista pode se emocionar, pode se solidarizar. Pode se sentir pequeno. Nós, jornalistas, não somos máquinas. Pertencemos também à área de Humanas.
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