segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

São tantas emoções


Tenho a lembrança de duas grandes mentiras ditas por um professor de ética na faculdade: “o jornalista tem a obrigação de ser absolutamente racional” e “vou colocar apenas a cabecinha” (no caso, para algumas inocentes alunas que embarcavam com ele em aventuras extracurriculares). Neste post, vou abordar apenas a primeira grande mentira. Será que o jornalista precisa ter a frieza de uma boneca inflável para contar uma história sem distorcer a realidade?

A questão me voltou à mente ao ver o Jornal Nacional da última sexta-feira, quando os apresentadores, imbuídos de um sensacionalismo dateniano, anunciaram por todo o telejornal uma matéria sobre o resgate de uma haitiana presa sob os escombros, três dias após o terremoto em Porto Príncipe. O que me chamou a atenção foi a postura da repórter, que mesmo visivelmente emocionada, no local da tragédia, conseguiu relatar o trabalho de resgate feito por militares brasileiros.

Carlos Alberto Di Franco, um crítico da imprensa brasileira, escreveu certa vez: “Jornalismo não é ciência exata e jornalistas não são autômatos. Além disso, não se faz bom jornalismo sem emoção. A frieza é anti-humana e, portanto, antijornalística.” Concordo com ele. Em certas coberturas é muito difícil ficar indiferente a situações de extrema penúria humana, como acompanhar flagelados de uma catástrofe natural, sobreviventes de uma guerra ou fãs ensandecidos em um show da banda Calypso.

Um professor dizer que um jornalista não tem o direito de se emocionar – que precisa fazer o tipo durão – é o mesmo que um pai dizer para o filho que homem não chora, que isso é coisa de menininha. Tudo bem que não precisamos nos tornar uma Helena do Manoel Carlos diante de uma cena de terror. Mas um pouco de coração mole não faz mal à isenção jornalística de ninguém.

3 comentários:

Blog da Bruna disse...

Duda concordo plenamente com vc...ñ existe jornalismo sem uma pitada de emoção. Emoção é o que telespectadores, leitores querem..

Anônimo disse...

Concordo plenamente! E é por não entender isso que muita gente confune a objetividade jornalística com a objetividade do jornalista. Que, aliás, ainda levanta discussões calorosas entre professores e estudantes - pelo menos lá na faculdade.

Duda Rangel disse...

Bruna e Diógenes, expressar sentimentos (na dose certa) também faz parte do jornalismo. Como diria o filósofo Galvão Bueno: haja coração! Abraços.