quarta-feira, 5 de agosto de 2009

A carteirada


Tempos atrás, numa bilheteria de cinema, encontro Pedro, antigo colega de redação. Está ansioso para assistir a Vicky Cristina Barcelona, de Woody Allen. Disseram a ele que, no filme, Scarlett Johansson e Penélope Cruz se beijam na boca. Pedro saca do bolso uma carteirinha de estudante para pagar meia-entrada.

- Voltou pra escola, Pedrão?

- A coisa tá feia, rapaz. Esta eu mesmo fiz. Se perguntam alguma coisa, invento que faço o curso de História da Arte Barroca na Casa do Saber.

Pedro admite que até pagaria o valor total da entrada pela cena lésbico-erótica entre as atrizes. Diz também que se excita ao ver a Penélope falando espanhol.

Mas não pode pagar.

- Tô desempregado, Duda. E neste mês cai o último cheque do meu tratamento dentário.

E ri o riso dos desgraçados.

Pedro me faz lembrar de meus tempos de repórter, quando usava o crachá do jornal ou a carteirinha da Fenaj para invadir eventos culturais, esportivos, festas de bacana. Jornalista adora uma carteirada. É o seu momento de glória, de sentir que está levando algum tipo de vantagem na vida.

- Duda, se quiser, faço uma pra você. Só me manda uma foto e cinco Reais para a plastificação. Preciso estrear o novo Photoshop que comprei na Santa Efigênia.

Me despeço de Pedro e entro na sala do cinema, para ver um outro filme. Sentado no escuro, lá no fundão, penso em sua proposta de uma carteira de estudante falsa e na Penélope beijando a Scarlett. Uma dúvida também me intriga: quem será que faz um curso de História da Arte Barroca?

14 comentários:

The Ideas of a Vintage Doll disse...

O mesmo tipo de pessoa que larga jornalismo e vai fazer gastronomia. rs
Ah, sabe que eu até que gostaria de beijar a Scarlet? Acho que se Penélope Cruz desse uma insistida, beijada também.
Que coisa, não?

AoxomoxoA disse...

Manda o telefone do Pedrão. Sempre quis a Scarlett e fazer curso na Casa do Saber... preciso dessa carteirinha.

Valeu, Duda! Lê-lo é sempre um prazer!

Fernando Rocha disse...

Não sei foi sua intenção primeira, mas saiu uma bela crônica.

Fer Suguiama disse...

Tudo bem que você criou um blog e uma conta no Twitter, Duda... Mas, já pensou em editar e lançar um livro com essas histórias? São ótimas! Eu leria Desilusões Perdidas. =)

Beijo!

Ewerton Martins disse...

Saiu uma matéria interessante sobre o tema na Revista Encontro deste mês. Porque é aquele caso: se o cara que não é estudante usa uma carteira falsa para entrar de graça em eventos, o cara que não tem a carteira falsa paga pelo outro (afinal, o produtor não vai baixar sua margem de lucros por isso, né?). O que acontece? O preço dos ingressos "inteira" vão parar no teto. Aí eu falo: então é só todo mundo ter uma carteirinha falsa! Daí os reais estudantes sairiam prejudicados, e virtualmente deixariam de ter o benefício. Complicado.

Em tempo: eu tenho uma carteira de estudante falsa.

Ewerton Martins disse...

Em tempo 2 (após ler os comentários acima):

Eu também compraria o livro, e também (mas isso é óbvio) adoraria fazer uma bagunça com a Penélope e Scarlett. Ô.

Duda Rangel disse...

Caros amigos e amigas,
Obrigado pelas mensagens! Vejo que não é só o Pedrão que curte uma Scarlett e uma carteirinha de estudante falsa. Tá no nosso sangue! Fernanda e Ewerton, bom saber que vocês gostariam de ler um livro com as minhas aventuras. Outras pessoas já me escreveram com a mesma idéia. Quem sabe não sai alguma coisa para 2010? Contarei com vocês! Beijos e abraços a todos.

Duda Rangel disse...

E*Ma*,
Obrigado por me acertar em cheio! Fiquei feliz. Beijo do Duda.

Ricardo Muza disse...

Não vejo nenhuma vantagem em querer pagar meia entrada no cinema e(como outros e outras)querer beijar a Scarlet.
Isso é fácil.
Quero ver quem tem coragem de beijar a Marlene Matos!!!

Tereza Alux disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Tete Cristina disse...

A coisa ta feia mesmo. Mas acho que o fato de o estudante pagar meia entrada é uma espécie de incentivo para eles continuarem estudando. Eu por exemplo, cursaria Historia da Arte Barroca. rs. Linkei seu blog no meu. Beijoos

Duda Rangel disse...

Ricardo,
Você tinha de falar da Marlene Matos só para me trazer para a realidade, não? Não posso nem sonhar mais...rs
Tete,
Nunca imaginei uma demanda tão grande por um curso como de História da Arte Barroca...rs. Obrigado pela mensagem! Bjs.

Lícia Maria disse...

História da arte relembra os cursos que os americanos das comedias romanticas inventam de fazer na Europa quando perdem o grande amor. texto muito bom...
Ruim é quando o jornalista se apega a certas vantagens né, e já se acha o 'bacanão'.
Mas não neguem, todo mundo gosta de se sentir importante quando falam " a imprensa pode passar". V.I.P

Duda Rangel disse...

É verdade, Lícia, ouvir "imprensa pode passar" é o momento de glória dos jornalistas. Valeu pela mensagem! Beijo.