sexta-feira, 17 de dezembro de 2010
O Evangelho segundo o assessor de imprensa
- Chefe, chefe, conversei com um ótimo advogado e conseguimos um habeas-corpus. Sua sentença está suspensa!
Era Pedro, assessor de imprensa de Jesus.
- A notícia já corre por todos os cantos.
Jesus arregalou os olhos. Não era esse o final que havia planejado. Mas como lei é lei, os soldados, também contrariados, tiveram que descer Jesus. O bandido mau sorriu com sarcasmo: “Neste país, só os pobres morrem na cruz.”
De volta à sua casa, Jesus teve os ferimentos tratados por sua mãe e por Maria Madalena, sua mulher, carinhosamente chamada por ele de Madá. Madá, que há pouquíssimo tempo já se considerava uma viúva, agora refazia os planos. Voltou a sonhar com uma casa no campo, cheia de crianças e ovelhas.
Jesus não entendia por que seu assessor de imprensa armou toda aquela estratégia para conseguir um habeas-corpus.
- Me responde, pelo amor do meu Pai: o que a gente combinou?
- Mas chefe...
- Não tem “mas chefe”. Era só escrever o release sobre a minha crucificação e a ressurreição no terceiro dia e disparar para a mídia. Só isso. É tão difícil para um assessor seguir o briefing?
O primeiro jantar de sua liberdade foi em família, coisa simples, nada da ostentação da santa ceia. Jesus era só desolação.
- Não comeu nada, filho. Assim você vai ficar fraco.
- Mãe, eu deveria morrer para salvar este povo. Agora, tudo será diferente. Como eu fico com a opinião pública?
Jesus caminhava pelas ruas sob olhares desconfiados. Os discípulos, sempre muito próximos, se afastaram. Não conseguia mais fazer milagres. Os leprosos continuavam leprosos. Os cegos jamais veriam o verde dos campos. Jesus começou a beber. Os cabelos e a barba foram crescendo cada vez mais.
- Meu filho, você está precisando arrumar um emprego.
Jesus tornou-se depressivo e passou a se entupir de Prozac.
Sem causar mais furor, Jesus foi esquecido. Seu assessor de imprensa, que ainda não havia sido perdoado, caiu fora por falta de pagamento. O processo de execução foi arquivado. Jesus estava condenado a jamais morrer na cruz. Ele pouco saía de casa e, numa destas raras vezes, foi comprar pão – já não conseguia multiplicá-los – e nunca mais voltou.
Madá chorou. Esqueceu a casa no campo, as crianças, as ovelhas.
24 comentários:
- Bruna Tavares disse...
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GENIAL!
- 17 de dezembro de 2010 às 10:42
- Everton Maciel disse...
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Nunca tive duvida que pedro foi o primeiro rp da história. MB
- 17 de dezembro de 2010 às 10:48
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Duda, voce já fez coisa muito melhor. Mexer com Jesus, para quê?
- 17 de dezembro de 2010 às 11:26
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Blasfêmia
- 17 de dezembro de 2010 às 11:34
- Duda Rangel disse...
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Anônimo, não leve a coisa tão a sério. Este é um blog de humor. E, se tem sacanagem aqui, é contra o pobre do assessor de imprensa. Abraço do Duda :)
- 17 de dezembro de 2010 às 11:42
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NAUM MECHÃO COM JESUS KKKK
- 17 de dezembro de 2010 às 12:06
- Rebelc disse...
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Putz, quem é (são) esse(s) anônimo(s)??? Pra que tumultuar??? Tsc tsc tsc, não entendo. Duda, você acha mesmo que um pobre assessor de imprensa é capaz de mudar a história?? Nos meus anos de assessoria (que, se Deus quiser, terminam agora), nunca tive esse poder todo não. Quanto ao texto, mais uma vez é muito bom, parabéns!
- 17 de dezembro de 2010 às 12:25
- Signates disse...
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Assessor de imprensa arrumando um habeas corpus?
Isso está parecendo mais adaptação de piada de advogado... ehehehe - 17 de dezembro de 2010 às 13:36
- João Paulo Cruz disse...
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Fabuloso...
o texto é ótimo...
PARABÉNS!!! - 17 de dezembro de 2010 às 13:44
- Cristine Bartchewsky Lobato disse...
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Cansei de dizer que esse blog me diverte. Invariavelmente, me diverte! Parar o que estou fazendo para lê-lo é sempre uma atitude sensata!
- 17 de dezembro de 2010 às 13:59
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Amém.
- 17 de dezembro de 2010 às 16:15
- Duda Rangel disse...
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Rebelc, mudar a história é só com os exageros do humor mesmo!
Obrigado a todos pelas mensagens.
Abração. - 17 de dezembro de 2010 às 17:08
- Clarissa Pacheco disse...
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Pobre assessor de imprensa... hauahauhauahauha
Texto genial! - 19 de dezembro de 2010 às 01:12
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antes eu gostava de ler muito seu blog mas este post foi deprimente, acho que tudo deve ser feito na dose certa. Você estrapolou neste! dá pra fazer humor sem perder o respeito é a ética principalmente espero que seje democrático e publique meu post.
- 19 de dezembro de 2010 às 14:38
- Rebelc disse...
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Sem dúvida, Duda, eu entendi o humor sim. Então, acho que no meu caso, muitas vezes eu é que fui para na cruz (ou nas fogueiras), pior. pelos erros dos outros. Mas é assim mesmo, a corda sempre arrebenta no lado mais fraco. Nos meus anos assessoria de imprensa, posso dizer uma coisa, o pobre do "sessor" é mais vítima que vilão.
- 20 de dezembro de 2010 às 10:31
- Duda Rangel disse...
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David, fica registrado teu protesto.
Clarissa e Rebelc, assessor sofre muito mesmo.
Abraços. - 20 de dezembro de 2010 às 16:59
- ASPHORT disse...
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Duda, não esqueça do Tiririca rsrsrs.....
- 21 de dezembro de 2010 às 07:16
- Unknown disse...
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Ai Duda...........
- 21 de dezembro de 2010 às 18:35
- Unknown disse...
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HAHAHAHHAHAHAHAH SENSACIONAL DUDA!!!
Esse foi o melhor post de todos. - 22 de dezembro de 2010 às 10:10
- Duda Rangel disse...
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Valeu, Fran. Beijos.
- 22 de dezembro de 2010 às 17:53
- Ricardo Welbert disse...
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Sen-sa-cio-nal! Ótimo texto. Você é fera, Duda!
- 28 de dezembro de 2010 às 15:18
- Duda Rangel disse...
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Brigadão, Ricardo. Abraço.
- 28 de dezembro de 2010 às 21:49
- Tiago Muniz disse...
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Post muito bom. Mesmo um pouco mais sombrio que o de costume, mas ótimo como sempre. Abraços!
- 30 de dezembro de 2010 às 15:02
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Duda
Se a vida do jornalista é f..., a do assessor de imprensa é pior ainda. Poder ele não tem, absolutamente. Normalmente perde o posto para algum metido qualquer. E nestes casos, nem Jesus salva. Na redação ainda compete com jornalistas. A única coisa boa do assessor, é que, se ele, como eu, passou pela redação primeiro, sabe o que o outro lado quer. Mas cá entre nós, já vivi em assessorias onde o último a saber era o assessor. E te digo, jornalista é jornalista, ou chornalista, como me chamavam na cidade onde eu trabalhava. Tudo farinha do mesmo saco. - 2 de janeiro de 2011 às 21:35